1. |
Improvisário do Amor
03:18
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Sem saber ler nem escrever
Palavras simples sobre o amor
E por mais sílabas que tenha
Escondidas
As fórmulas andam perdidas
Vazia a procura sem nunca encontrar
Será que ele gosta de mim
Se calhar sim "assim assim"
O coração fica uma porta
entreaberta
Que deixa correr livre o ar
Há vidas que passam sem o abrir ou fechar
Será correcto o compromisso
Ou é melhor nem pensar nisso
O espaço a dois fica pequeno
E é tão grande
Que troca as regras à ciência
Misterioso universo onde o corpo se expande
Muda o par e troca a dança
Troca a dança e muda o par
Há sempre o risco de alguém se aleijar
Que o amor desfolha a dor
Mas também é como a flor
Bem cuidado dá perfume e calor
Será possível ser feliz
A vida inteira em comunhão
Sou eu p'ra ti e tu p'ra mim
E quem sabe
Possamos juntar um ou dois
Fazer um grupinho, ponderamos depois
Homem Mulher Mulher e Homem
Homem Homem Mulher Mulher
O amor conquista uma mordaça
Discreta
Traveste apenas quem fizer
Da rota do amor uma estrada concreta
Muda o par e troca a dança
Troca a dança e muda o par
Há sempre o risco de alguém se aleijar
Que o amor desfolha a dor
Mas também é como a flor
Bem cuidado dá perfume e calor
E duas mãos entrelaçadas
Muito velhinhas e com rugas
Ele na louça
E ela a cozer-lhe as peúgas
É imagem p'ra saborear
A doce utopia
que o amor tem pr'a dar
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2. |
Flor
03:32
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Uma batida simplória
Um som sem roque nem glória
Fazer falso e contrafeito
E contornar o conceito
A vergonha de existir
Dente partido ao sorrir
Cabelo branco a aparecer
Repensar o que colher
Há sempre um grão germinado
contas antigas cobranças
feitas em nome do passado
E os caminhos antigos
Fossem de amores ou de amigos
Tornam viçosa esta flor
O discurso da lamúria
A luta cega sem fúria
O tema simples para abrir
Difícil é começar
Os filhos por aparecer
A família por crescer
Trabalho é coisa d'outrora
E emprego diz que é lá fora
Há sempre um caule rebento
Manifesto ao sentimento
Entorpecido na voz
E sobram canções de amor
Adolescência e terror
Passeiam da Sé à Foz
Ter balas mas não pistola
Entranha mal na cachola
Rigor artificial
Ajuda profissional
Um corpo ao lado ao dispor
A noiva longe e o clamor
Chama por incendiar
É tempo de terminar
E o final é este Flor
Descuidado na intenção
Trilogia com senão
Exercício solto e breve
Diz adeus e até já
Para o ano eu volto cá
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3. |
Supimpa
02:38
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Supimpa é o termo adequado
Anda sempre engravatado
Cremalheira reluzente
No discurso e na retórica corrente
Pelas feiras e aldeias vai mostrando
O caminho para isto andar p'ra frente
E que já chega de gatunos
Ladrões Bandidos Vigaristas
Pelo meio vamos nós presos também
Ele garante que cumpre
O que promete e promete prometer
Com a experiência acumulada de gravata
Tudo faz acontecer
O perfume e o colarinho passajado
Mostram ares de quem carrega
Uma cegueira pelo Estado
Social ou liberal o que é que importa
Se o que conta é ter assento reservado
Na cadeira do poder seja local ou regional ou nacional
É tão quentinho o hemiciclo tem cantina e dá pensão marsupial
Ele desvenda os caminhos que começam e acabam na comissão
E entretanto guarda a carta rara do "Você está livre da prisão"
Um sossego que lhe traz
Essa ambição de capataz
É a certeza na desimaginação
Dos votos que votados o são pela cor
Deseducados de sentido pensador
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4. |
Panzer Azul
04:24
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Desculpa se incomodo, eu só vim dizer que está tudo bem
E fico por aqui contigo, para abrirmos o champagne
Se preferires silêncio, posso ser só companhia
Ou aparvalhar à grande, abrir a porta à escatologia
É tão bom fazer da vida um eterno recomeço
Do adeus ao "como estás" nunca perdendo o endereço
Da imagem séria ou tonta, camuflada na memória
Escrita numa janela, escrita na pré-história
Entre resenhas e datas travaram-se tantas batalhas
Por vezes fica o sentido de a humanidade andar ao calhas
Mas tu guerreira do frio, vences lutas do norte ao sul
És armadura exótica uma espécie de Panzer Azul
Panzer Azul
Panzer Azul
Diz-me da janela
Que ter uma cicatriz
É marca registada
Quiçá para ser feliz
Cantamos a canção das noites dos raios verdes invisíveis
Atravessam a nossa janela, carimbados como impossíveis
Os degraus da existência, um dois três antes do mil
Vou estar pertinho no próximo, mesmo que velho e senil
Mostras-me mundos retratos do granito e da proeza
Pedras roladas p'ra dentro e discutidas sobre a mesa
E o que mais há por aí, são cozinheiros de receitas
Regulam comportamentos e o coração por vias estreitas
A esses dizemos que não, dizia o poeta e com razão
Falta poesia no mundo p'ra serenar a confusão
É sempre o amor que nos salva, seja na ausência ou no embaraço
O desenho da vida é incerto até descobrirmos o nosso traço
Panzer Azul
Panzer Azul
Diz-me da janela
Que ter uma cicatriz
É marca registada
Quiçá para ser feliz
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5. |
eu posso ser
03:44
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meu amor
eu posso até fingir que sou outro
utilizar o estereótipo intelectual contemporâneo de pacotilha ##
e colocar hastes mais grossas nos meus olhos
e um ligeiro ar de tédio que disfarce a minha ignorância
meu amor
eu posso até fingir que não sou eu
e dançar cantar sorrir até vestir roupagem muito espampanante
e sugerir ser grande amante que te passa a roupa a ferro
e manda as altas gargalhadas no café
mas não consigo encarnar
às vezes tento aldrabar
é-me impossível mentir
eu não consigo fingir
meu amor
eu posso até fingir que vou fingir
ser doce e generosa alma, preocupado, reciclador feroz
um homem verde deslumbrado um homeopata alternativo
atento ao mundo, extasiado e positivo
meu amor
eu posso até sorrir enquanto faço de bêbedo indiscreto,
desgraçado com a vida que janta ovos e maços de tabaco
e entregar-me ao romantismo desmesurado
e niilismo exacerbado, à depressão e ao lamento
mas não consigo encarnar
às vezes tento aldrabar
é-me impossível mentir
eu não consigo fingir
meu amor
eu posso até começar a ir à bola, excitar-me nos estádios
comprar jornais diários fazer reverência à transferência
e começar a usar palavras como ripa na chulipa
ficar raivoso nas derrotas, lambão quando vencer
meu amor
eu posso até fingir que sou o rico
do dinheiro sempre pronto com o 6g em cima da mesa,
"é abonado com certeza"
e esmerar-me nas viagens, sempre com as melhores bagagens
ter um carro todo gringo para o sushi ao domingo
só não consigo fingir
eu não consigo mentir
só não consigo fingir
é que não gosto
de ti
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6. |
Húmus
04:40
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Pesado nevoeiro
Que pousa na cidade
Às vezes faz perder
A noção de liberdade
A fruta é rarefeita
A flor já não tem cheiro
Da esquerda à direita
Quem governa é o dinheiro
Eu não vivia quando os cravos saíram
Estava em directo quando as torres cairam
Onde estaremos quando as flores se abrirem
Outros cravos
mesmo cactos
serão bem-me-queres de alguém
E a dúvida é o costume
Escolha em democracia
Votarmos em cardume
E eleger a economia
Os políticos de sempre
Vão rodando pelo telheiro
Disfarçam ideologias
Cobram cigarros e cinzeiro
E eu não vivia quando os cravos sairam
Estava em directo quando as torres cairam
Onde estaremos quando as flores se abrire
Outros cravos
mesmo cactos
serão bem-me-queres de alguém
Tantas décadas passadas
Do mais forte vampirismo
Paparam a ideologia
Sentados no comodismo
Os tempos são difíceis
O cachorro é sem mostarda
Quanto mais nos informamos
Mais apetece uma espingarda
E eu não vivia quando os cravos se abriram
Estava em directo quando as torres cairam
Onde estaremos quando as flores se abrire
Outros cravos
mesmo cactos
serão bem-me-queres de alguém
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7. |
Vai pela sombrinha
02:38
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Mete o dinheiro ao saco
Apanha o avião
Fica por lá
Instala-te num bom hotel
Põe tudo no paraíso
E assim já está
Compra as tuas acções
Os poderes possíveis
Sem obrigações
Mas leva contigo as palavras
Peculato, Providência
Falsificação
Que a gente já não suporta
A melodia recorrente
De Fado aldrabão
A gente até te paga
Para te ires embora
diz quanto é para dares ao pé
Sai-nos até mais barato
Não carregar este fardo
de te ver ficar
Contas feitas à alegria
Não há quem sorria
Por te suportar
Ficamos sempre melhor
Sem te ver os dentes
E a soberba nos jornais
Paladinos da verdade
E telhados de vidro
Já são notícias banais
Portanto boa viagem
Seja p'ró Brasil ou para os Dubais
O que realmente interessa
É ter a certeza que daqui te vais
Portanto boa viagem
Vai pela sombrinha
Vai pela sombrinha
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